sábado, maio 03, 2008

como eu me tornei um fucking consumista

se algum dia você precisar tornar alguém num consumista sem controle, é simples. aumente a quantidade de dinheiro que é fornecida a ele, pouco a pouco.
foi assim comigo.

eu nunca tive mesada. quando precisava de algo (roupa-comida-escola), meus pais me davam. minha tia me dava alguns reais por mês, e eu me virava para comprar o cd ou a revista. lembro das primeiras aquisições, mas não é muito nobre listá-las aqui.

estar entre os três primeiros no vestibular da estadual e da federal, me deu a certeza de que eu podia ganhar o mundo. aos 16 anos, eu mudei para a cidade grande acreditando nisso. primeira oportunidade de trabalho, eu aceitei; e com os primeiros salários, pude descobrir o cinema, os restaurantes, as baladas. tudo compatível com o salário em torno do mínimo que eu recebia para dar aulas.

os 4 meses no banco do nordeste me ensinaram outra coisa. a minha semana podia ser um lixo, mas eu tinha dinheiro para fazer o que quisesse no final de semana (ou achava que tinha). então eu descobri a vodca, o cigarro, as roupas que eu gosto e me descobri. em pouco tempo descobri que o dinheiro não era suficiente e - fiz o que é para muitos diferentes de mim, impensável - larguei o emprego público.

de volta à faculdade, descobri que dinheiro é proporcional ao trabalho. quando eu precisava de mais, eu trabalhava mais. comecei a dormir cada vez menos em casa, e cada vez mais na aula. mantive a boemia e mantive os amigos. quando descobri os botecos na madrugada e as baladas de quinta, eu perdi tempo de trabalho e acumulei dívidas. e desejei que o dia tivesse 30 horas.

quando a situação começava a ficar insuportável e eu achei que tivesse que parar, consegui um emprego que me pagava bem mais do que a maioria dos colegas recém formados. depois de pagar as dívidas, eu descobri que o dólar a 2 reais não é tanta coisa e comecei a importar umas roupas. descobri a balada de terça. descobri pelo menos um restaurante novo por semana. comprei meu macbook. comprei meu carro. comecei a viajar. não deu pra juntar nada, mas foi o dinheiro suficiente para me transformar no que sou hoje.

como aceitei que o dia não pode ter 30 horas, resolvi adicionar o nome do ITA ao meu currículo para ganhar dinheiro de outras formas. larguei a vida boa para viver com bolsa-auxílio. casa, energia, internet voltaram a ser preocupações frequentes. as visitas aos restaurantes ficaram raras. a vida boemia também.

e o pior dessa vida não é ter que contabilizar tudo, é a dor na consciência ao voltar do mercado com geléia de blueberry importada.

sexta-feira, maio 02, 2008

dos dias frios

eu gosto das ruas largas de são josé dos campos; gosto dessas ruas vazias; gosto das pessoas que passam sem olhar pra você.
gosto de andar em dias frios. gosto de ver as pessoas correndo da chuva enquanto eu apenas sinto as poucas gotas cairem.

gosto quando minha barba cresce até esse tamanho. não sei explicar o que eu vejo, mas é minha melhor visão. amanhã isso vai ter passado.

gosto de acreditar que um dia eu vou estar apenas olhando a chuva e vou estar bem.

(eu não gosto quando preciso escrever - a.k.a. expor sentimentos - e o resultado não fica bom.)